Endocardite infecciosa

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1- O quê é a endocardite infecciosa ( EI ) ?

A endocardite infecciosa ( EI ) é uma doença grave , na qual ocorre uma infecção do endocárdio ( revestimento interno do coração ) ou das válvulas cardíacas . A EI geralmente é causada por bactérias e, mais raramente, por fungos , que invadem a corrente sangüínea ou contaminam diretamente o coração durante uma cirurgia cardíaca. As válvulas anormais ou as próteses valvulares , são mais suscetíveis a infecções . Um achado típico da doença é o surgimento de vegetações ( acúmulos de bactérias , células inflamatórias e coágulos sangüíneos nas válvulas ) , as quais podem se desprender do coração em direção à órgãos vitais, obstruindo o fluxo sangüíneo dos mesmos ( embolização arterial ). Essas obstruções são graves e podem causar um derrame cerebral ou infarto do miocárdio . A EI pode ocorrer subitamente , sendo potencialmente fatal em questões de dias ( EI aguda ), ou pode evoluir de uma forma gradual , ao longo de um período de semanas a meses ( EI subaguda ).

2- Causas:

A endocardite infecciosa ( EI ) costuma surgir a partir de duas situações : a presença de bactérias circulando no sangue ( bacteremia ) e uma doença cardíaca que predisponha ao aparecimento da doença.

- Bactérias circulando no sangue : embora as bactérias normalmente não estejam presentes no sangue, uma lesão da pele, da mucosa oral ou das gengivas ( mesmo uma lesão em decorrência de uma atividade normal , como escovar os dentes ), podem permitir que um pequeno número de bactérias invadam a corrente sangüínea. A gengivite ( infecção e inflamação das gengivas), as infecções de pele ou de outras partes do organismo , podem permitir que bactérias entrem na corrente sangüínea , aumentando o risco da ocorrência de uma endocardite infecciosa ( EI ). Certos procedimentos cirúrgicos, odontológicos e médicos, também podem facilitar a entrada de bactérias na corrente sangüínea. Por exemplo, o uso de linhas intravenosas ( para a infusão de soros , nutrientes ou medicamentos ) , a cistoscopia ( inserção de um tubo que permite a visualização do interior da bexiga) e a colonoscopia ( inserção de um tubo para visualização do interior intestino grosso ) também podem levar a passagem de bactérias para o sangue.

- Doença cardíaca predisponente: em pessoas com válvulas cardíacas normais, a presença de bactérias no sangue não costuma acarretar qualquer dano ,pois os glóbulos brancos de defesa , chamados de leucócitos , normalmente destroem essas bactérias. Entretanto, em pacientes com doenças da válvulas cardíacas , as bactérias poderão se alojar no endocárdio e, posteriormente , começarem a se multiplicar. Raramente, quando uma válvula cardíaca é substituída por uma válvula artificial ( prótese valvular ) , pode ocorrer a introdução de bactérias no ato cirúrgico. Os indivíduos que apresentam um defeito congênito do coração , como a comunicação entre os ventrículos ( comunicação interventricular ) , também apresentam maior risco de sofrer de uma EI.

A presença de algumas bactérias no sangue ( bacteremia ) pode não produzir sintomas imediatos, mas é possível que a bacteremia evolua para uma septicemia . Esta é uma infecção grave , em geral , provocando febre alta , calafrios, tremores e hipotensão arterial. Algumas vezes, as bactérias que causam a EI aguda são suficientemente agressivas para infectar válvulas cardíacas normais. As bactérias que causam EI subaguda, quase sempre, infectam apenas válvulas anormais ou lesadas. Nos Estados Unidos, quase todos os casos de EI ocorrem em indivíduos com defeitos congênitos das câmaras e das válvulas cardíacas, em indivíduos com válvulas cardíacas artificiais e em idosos com lesão valvular causada pela moléstia reumática na infância ou com alterações valvulares relacionadas ao envelhecimento.Os usuários de drogas injetáveis apresentam um grande risco de EI , pois é comum a injeção de bactérias diretamente na corrente sangüínea através de agulhas, seringas ou soluções de drogas contaminadas. Nos usuários de drogas injetáveis e nos indivíduos que apresentaram EI em decorrência do uso prolongado de cateteres, a válvula de entrada para o ventrículo direito ( válvula tricúspide ) é a mais freqüentemente infectada. Na maioria dos outros casos de EI , a válvula de entrada para o ventrículo ( válvula mitral ) , costuma ser a mais acometida pela EI. Para um indivíduo com uma válvula artificial, o risco de EI é maior durante o primeiro ano após a cirurgia. Transcorrido esse período, o risco diminui, mas permanece discretamente maior que o normal.

3- Sintomas :

A endocardite infecciosa ( EI ) em sua forma aguda , apresenta um início súbito, com febre elevada ( 38,5 a 40°C), freqüência cardíaca aumentada, fadiga e dano rápido e extenso da válvula cardíaca afetada. Vegetações endocárdicas desalojadas ( êmbolos ) , podem deslocar-se para outras áreas e criar novos locais de infecção. Agrupamentos de pus (abscessos) podem formar-se na base das válvulas cardíacas infectadas ou em qualquer local onde tenha havido depósito de êmbolos. As válvulas cardíacas podem ser perfuradas e podem ocorrer escapes importantes de sangue em poucos dias. São comuns os sintomas de insuficiência cardíaca: astenia, falta de ar , inchaço nas pernas e no abdômen. Algumas pessoas entram em choque e seus rins e outros órgãos param de funcionar ( sépsis ). Infecções arteriais podem enfraquecer as paredes dos vasos sangüíneos, fazendo com que eles se rompam. A ruptura pode ser fatal, particularmente quando ocorre no cérebro ou em áreas próximas ao coração. Na EI de apresentação subaguda , os sintomas podem iniciar meses antes que a lesão valvular ou a liberação dos êmbolos , tornem o diagnóstico evidente para o médico. Os sintomas incluem a fadiga, febre baixa ( até 38°C), perda de peso, sudorese e anemia ( baixa contagem de hemácias ou glóbulos vermelhos ). O médico pode suspeitar de EI quando o indivíduo apresenta febre sem apresentar uma origem evidente de infecção, quando surge um novo sopro cardíaco ou quando ocorre alteração de um sopro cardíaco já existente. O médico pode observar o aumento do baço ou o aparecimento de manchas muito pequenas na pele, parecidas com pequenas sardas , ou de manchas similares no branco dos olhos ( esclera ) ou sob a unha dos dedos das mãos. Essas manchas são áreas minúsculas de sangramento causadas por êmbolos pequenos que se desprenderam das válvulas cardíacas. Êmbolos maiores podem causar dores abdominais, obstrução súbita de uma artéria que irriga um membro superior ou inferior, sangramento urinário ( infarto renal ) , infarto do miocárdio ou derrame cerebral . Outros sintomas de EI aguda e subaguda incluem os calafrios, dores articulares, palidez da pele, batimentos cardíacos rápidos, nódulos subcutâneos dolorosos e confusão mental . A EI de uma válvula cardíaca artificial pode ser aguda ou subaguda. Em comparação com a infecção de uma válvula natural, é mais provável que a infecção de uma válvula artificial se dissemine ao miocárdio da base da válvula, provocando o desprendimento dessa estrutura. Nesse caso, é necessária uma cirurgia de emergência para substituição da válvula, pois a insuficiência cardíaca em decorrência do escape valvular muito intenso pode ser fatal. Algumas vezes, o sistema de condução elétrica do coração é atingido , resultando em arritmias cardíacas e distúrbios da condução elétrica do coração , podendo acarretar uma perda súbita de consciência ou mesmo à morte.

4- Diagnóstico:

Geralmente, os indivíduos que apresentam suspeita de endocardite infecciosa ( EI ) em sua forma aguda , são imediatamente hospitalizadas para a confirmação do diagnóstico e a instituição de um tratamento. No início do quadro , os sintomas da EI subaguda são vagos, a infecção pode lesar as válvulas cardíacas ou disseminar-se para outros locais antes do problema ser diagnosticado. A EI subaguda não tratada pode ser tão fatal quanto a EI aguda. O médico suspeita de EI baseando-se apenas nos sintomas, principalmente quando eles ocorrem em um indivíduo com uma doença predisponente ( doenças das válvulas cardíacas ou uma doença cardíaca congênita ). O ecocardiograma, principalmente do tipo transesofágico , exame que utiliza ondas de ultrassom refletidas para gerar imagens do coração, pode identificar as vegetações e lesões valvulares. A ilustração no canto superior esquerdo desta página, mostra uma vegetação cardíaca , observada em um ecocardiograma. Para identificar a bactéria causadora da doença, o médico deve coletar amostras de sangue e submetê-las à cultura ( hemocultura ). Como em determinadas ocasiões as bactérias são liberadas na corrente sangüínea em quantidades suficientes que permitem a sua identificação, três ou mais amostras devem ser coletadas em ocasiões diferentes, visando aumentar a probabilidade de pelo menos uma das amostras conter bactérias em número suficiente para que o crescimento em laboratório seja possível .

4- Prevenção e tratamento :

Como uma medida preventiva para o surgimento da endocardite infecciosa ( EI ) , os indivíduos com doenças das válvulas cardíacas ( exemplo: insuficiência mitral por prolapso da válvula mitral ), válvulas artificiais ( exemplo: prótese metálica mitral ) ou com certos defeitos congênitos ( exemplo: comunicação interventricular ) , deverão ser tratadas com antibióticos antes de procedimentos de certos procedimentos odontológicos. É por essa razão que os dentistas e médicos precisam saber se seus pacientes apresentam um destes distúrbios acima , predisponentes ao aparecimento da EI. Embora o risco de EI após estes procedimentos seja baixo , as conseqüências desta doença são muito graves. Por esta razão , que quase todos os dentistas e médicos acreditam que a administração de antibióticos , cerca de uma hora antes desses procedimentos , é uma precaução justificável.